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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Capitu, Macunaíma e Carla Aparecida de Menezes

Capitu, Macunaíma e Carla Aparecida Menezes.

Carla Aparecida assistiu a palestra oferecida pela direção da escola aos alunos.

_ “Os livros de leitura obrigatória para o vestibular se encontram na biblioteca. Recomendamos a leitura desses livros durante os quatro anos finais do primeiro grau de ensino. Os alunos podem ler com calma e apreciar o conteúdo dos mesmos”.

Professores a alunos discutiram o assunto em sala de aula e negociaram pontos na média escolar mediante um resumo de livro lido. Antes do teste bimestral uma apresentação é feita para que os alunos mostrem aos seus colegas que realmente leram os livros.

Chega à vez. Carla Aparecida de Menezes é chamada pelo professor, que naquele momento se transforma em Macunaíma e começa a apresentação.

_ Garota, gostei do seu resumo. Apenas uma pergunta e você pode se sentar.

Carla sorri.

_ Capitu traiu Bentinho?

_Traiu sim, Macunaíma. O filho dela, o Ezequiel, em nada se parece com o pai, que é Bentinho.

Macunaíma retrucou:

_O meio ambiente influencia a nossa formação. Será que a presença constante de Escobar naquela casa não ajudou o comportamento de Ezequiel e o menino simplesmente copiou os hábitos do amigo do pai dele?

A garota se desculpa:

_Fui maliciosa e julguei precipitadamente Capitu, que era uma boa esposa para Bentinho.

Macunaíma a provoca:

_Quem disse isso? Bentinho flagrou os olhares de Capitu a Escobar. Não uma única vez, vária vezes.

Carla Aparecida ficou ruborizada e, sem jeito, respondeu que talvez não tivesse lido a parte principal do livro.

_ Professor Macunaíma, eu li com atenção e até posso dizer que me distraí com a leitura. Pelo o que o senhor me diz, eu não fiz tão boa leitura. Eu fiz um bom resumo.

Macunaíma disse que o resumo valia os dois pontos e anotou no livro de chamada.

_ Falta uma conclusão.

Carla Aparecida sentiu vontade de fugir da escola. Os colegas a observavam boquiabertos. O Macunaíma a inquiria. Um colega, que estava sentado na segunda fila, protestou e disse que conhecia a Carla Aparecida e que ele foi testemunha que ela leu o livro inteiro.

Macunaíma não se conteve:

_ Você quer é passar o recreio conversando com ela, anotar o número do celular na sua agenda e afastá-la do estudo. São más as suas intenções. Deixe que eu pergunto.

O menino, de doze anos, fica de mau humor. A sala se assusta com Macunaíma.

O tempo não passa. Quarenta e cinco minutos em meio àquelas perguntas. Uma vez que ele a defende, outra vez que Capitu está nos quintos dos infernos.

Carla Aparecida cansa, perde a timidez, o rubor, a vergonha e o medo da nota.

_ Macunaíma, eu não sei se Capitu é ou não é adúltera. Penso que a vida é dela, o corpo é dela, o marido é dela, e o Escobar, se for amante dela, que se dane. Quer saber? Eles que se resolvam. Não é problema meu, que ainda nem namorei!

Após estas palavras, Carla Aparecida de Menezes tremia. Pálida, olhava para os colegas que retribuíam o seu olhar com uma interrogação. Qual seria a intenção de Macunaíma? A tensão, os olhares que se entreolham no desconhecimento da causa. Um silêncio profundo se faz, nem rabisco de caneta em papel se ouve. Toda a classe se volta para Macunaíma. Faltam cinco minutos para acabar a aula.

Macunaíma olha um por um dos garotos e garotas e quebra o silêncio.

_ Muito bem, garota! Ninguém sabe se ela traiu ou não traiu Bentinho. Essa era a resposta que eu queria.

Toca o sinal que marca o final da aula. Macunaíma sai satisfeito. O próximo a ser lido é ele.

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