Diamante! Crônica de Supermercado
Fui aos pães, muita gente no supermercado.
Enquanto eu pensava na fila imensa e nos pães, distraidamente derrubei as chaves no chão sem perceber.
Um garoto negro, magrinho e simpático juntou-as para mim. Era um dos garotos que trabalha no supermercado. O expediente dele havia acabado e ele havia se arrumado para ir embora.
Eu agradeci e observei o sorriso dele, sorriso de amor fraternal.
Agradeci mais uma vez observando aquele sorriso de felicidade.
Ele me dirigiu a palavra:
_Dona, a senhora não sabe, mas eu gosto dos fregueses. São eles que garantem o meu emprego.
Aquela frase me deu um nó na garganta. No entanto, me segurei num sorriso emocionado e ele continuou a sua conversa:
_Nós ganhamos. O preço da passagem de ônibus baixou. A gente não é contra ou a favor deste ou daquele líder. O ônibus é pesado para a gente, mesmo com vale-transporte. A gente gosta de sair, de passear e não dava mais para viver em função da condução para o trabalho.
Comentei que o movimento foi bonito.
_A gente deixa o movimento agora. A gente queria respirar essa liberdade de poder sair para se divertir de vez em quando, ir com os amigos ao parque, ir com a namorada ao cinema. Eu posso pagar cinema porque a operadora do meu celular garante a meia-entrada e dependendo do dia de folga eu gasto R$4,00 reais com o ingresso do cinema e assisto ao filme que está na propaganda do jornal. Livro eu consigo na biblioteca da escola e para ir ao futebol a situação é difícil. Será que ninguém entende que eu também gosto de futebol? Por que eu não posso ir? Por que é que eu tenho que pegar ônibus com aqueles que entram sem pagar? Eu ganho pouco, mas gosto de pagar e de ser bem tratado pelos motoristas e cobradores, mas na hora do tumulto sobra para toda a gente que mora longe do centro da cidade e que pega dois ônibus para chegar até a minha casa. Eles precisam se lembrar de que eu tenho mãe, eu tenho pai e irmãos ou irmãs. A minha mãe fica apavorada quando eu vou ao jogo e eu digo para ela para não se preocupar e que eu não sou bagunceiro. Ela responde que não se preocupa comigo, mas com os outros.
Se eu pudesse, eu daria a minha blusa de lã para ele, porque a aquela altura do bate-papo, o meu coração era dele.
Então respondi, porque ele estava feliz e, eu, comovida.
_Meu querido (não contive a expressão sincera), eu fico contente por você e pela felicidade que essa vitória te causa. Desejo a você e a todos aqueles que são como você, todas as conquistas dentro dessa sabedoria, a de saber vencer. Saber vencer é uma virtude que brilha como diamante e, você é possuidor desse diamante. Conserve-o com você e que esse diamante brilhe sempre nas suas atitudes e palavras.
Ele me sorriu o sorriso mais lindo que eu presenciei; um sorriso idealista.
O leitor me perguntará sobre as outras reivindicações, com toda a razão. As outras questões podem ser discutidas e negociadas pelas pessoas letradas e conhecedoras dos assuntos. Sejamos francos, eles precisavam mostrar a insatisfação deles. Ninguém os dava atenção. Estavam sem voz e gritaram.
3 comentários:
Oi Yayá,
Emocionante!
Assim como seu texto, muitos outros fatos dos últimos dias me trouxeram ao coração essa palavra, esse sentimento! Emoção!
Beijos!
Já é uma vitória, mas ainda esse diamante tem muito a ser lapidado! Luzes da Ribalta era o hino da minha mãe... retornei à infância lembrando-a cantarolando isso...
Bjs. Célia.
Lindo texto... Parabéns!!!
Já sigo seu blog a algum tempo e ele esta cada vez melhor!
Agradeço muito a sua visita e retornos será sempre uma grande honra!
Um Abraço!
Rodolfo.
Postar um comentário