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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Clara Infância

Clara Infância

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Clara tinha medo do escuro. Um dia reclamou dos seus pais saírem e voltarem quando já tinha anoitecido.

Clara fez algo muito feio. Reclamou dos seus pais perto dos vizinhos.

O vizinho, que era pai da amiga da Clara, olhou para ela e disse que trabalhava no escuro.

_O senhor trabalha no escuro? Que perigo!

O vizinho olhou para o pai de Clara e sorriu, dirigindo-se à menina.

_Quando você vai ao cinema a luz fica acesa?

Clara disse que não.

_Por que é que a luz fica apagada?

Clara disse que era para poder assistir ao filme.

_Você tem medo de ir ao cinema?

Clara disse que não. Além do mais tinha pipoca e balas na frente do cinema.

O vizinho olhou para o pai da Clara e para ela e sorrindo contou do seu ofício.

_Eu chego por volta da uma da tarde ao cinema. Separo os rolos de filme pela ordem e as caixas onde serão guardados, também em ordem durante a exibição. A única luz que tenho é a luz do projetor direcionada para a tela. Entre a sessão das duas da tarde e a sessão das quatro da tarde eu mal tenho um tempo para tomar água. Separo a fita do jornal e a fita com os trailers dos filmes que serão exibidos depois que o filme sair de cartaz.

O pai de Clara perguntou se ele era cinegrafista.

_Não. Sou o responsável pela exibição, por enquanto. Eu sonho um dia ter um cinema, mas é sonho. Enquanto o público assiste ao filme eu observo as expressões fisionômicas. De certa maneira, eu sou também responsável pela diversão do público. O filme não pode descontinuar e, quando um rolo está no final, eu deixo no ponto o rolo seguinte. Ninguém percebe quando acaba um rolo ou começa outro.

O pai de Clara perguntou se nunca teve problema, pois quando era guri havia algazarra quando o filme era interrompido por minutos.

_Esse é o problema. Se a fita enrosca na máquina, o filme trava. Aí tenho que mandar acender as luzes e pedir ao público que aguarde porque o filme enroscou.

O pai de Clara, curioso como ele era, perguntou se valia a pena trabalhar no cinema.

_Sinceramente, eu ganho pouco. Sessão lotada é para o fim de semana. Eu preciso me virar nas horas de folga para sustentar a família. Mas, eu me sinto realizado trabalhando naquele lugar, uma sala pequena e escura com um projetor e várias caixas com rolo de filmes.

O vizinho, vendo que Calar estava com o olhar fixo para o que ele dizia, aproveitou a deixa e perguntou se ela ainda ficaria com medo de escuro.

Clara disse que não.

O vizinho foi para a casa dele e Clara e o pai foram para a casa deles.

_Mamãe. Hoje eu vou dormir com a luz apagada, mas eu posso te chamar se precisar?

O pai de Clara disse que haviam voltado do cinema ao que a mãe retrucou dizendo que ele não gostava de ir ao cinema e fazia tempo.

O pai da Clara disse que daquele filme que acabara de assistir ele havia gostado. E piscou.

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