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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Cultura Musical / Crônica do Cotidiano

Cultura Musical / Crônica do Cotidiano

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Doeu e muito o tema do vestibular da FUVEST. Porque quando se gosta de algo como cultura, há o esforço em se saber mais.

Eu não saberia o que é camarote se não fosse um concurso cultural para um show na Pedreira Paulo Leminski. Levei o meu irmão na marra porque ele não queria ir e se, ele foi ao show, foi por mim. Se eu não tivesse ganhado o concurso cultural, eu não iria.

Camarote não faz falta pra ninguém. Para assistir a um show é preciso não ter compromissos na manhã seguinte e é esse o motivo da maioria dos shows acontecerem aos sábados. Shows durante os dias de semana são impraticáveis para o artista e para o público em geral.

Há uma visão distorcida da juventude. A diversão depende do dia de folga, da saúde, da disposição dos amigos em se divertir. Ninguém assiste show, desacompanhado de parentes, amigos e conhecidos, na Pedreira Paulo Leminski.

Em Curitiba o clima varia muito e, aconteceu certa vez de entrarmos na fila da Pedreira com a temperatura na marca dos vinte graus por volta das cinco da tarde e cair abruptamente para seis graus centígrados. Um funcionário da prefeitura fez questão de me emprestar um poncho feito de cobertor popular. Eu aceitei humildemente porque teria que desistir do show e voltar para casa para não ficar doente.

Cada um frequenta a cultura do jeito que pode e em acordo com as circunstâncias da sua vida.

Eu pergunto agora, com se fosse ao tempo da minha juventude: quantos jovens iriam ao cinema para assistir uma ópera filmada num teatro? Eu fui e paguei meia-entrada. As óperas têm público pequeno e são caras. O custo de produção da ópera é altíssimo e o ingresso tem que ser caro. Não existe elitização no custo do espetáculo.

Conto ainda outra forma de se assistir ópera: as provas das escolas de formação musical são abertas ao público e foi assim que assisti Cleópatra, de Handel.

Ainda, dentro da atualidade, quando soube que a garota chamada Amy Lee, do Evanescence tocava piano, fui ao show de heavy-metal. Na volta os pontos de ônibus estavam com filas inimagináveis e os pontos de táxi, vazios. Andamos a pé quatro quilômetros até conseguirmos uma condução. Chegamos a casa às cinco da manhã por conta da caminhada naquela procissão que clamava por ônibus e táxi em direção à Praça Tiradentes no centro da cidade. Todos se divertindo e brincando uns com os outros para ajudar no fôlego daquela caminhada após assistirem o show em pé na Pedreira.

Tínhamos espetáculos em estádios de futebol aos quais jamais frequentei. O custo era acessível, mas a distância e as quintas-feiras tornavam as coisas difíceis. Sábado, possível. Quinta-feira, não.

Pessoalmente não acredito em elitização cultural, acredito na falta de segurança para que se realizem grandes shows onde frequentem multidões.

A falta de segurança, essa sim, cria e alimenta o camarote. Porque os pequenos espaços podem ser seguros.

Outra questão derivada, também depende da juventude a condição da segurança para que existam grandes espetáculos ao ar livre. A juventude tem força contra atos daninhos ao patrimônio público, ou seja, aos ônibus, às floreiras. As latinhas de refrigerantes são para serem jogadas no lixo, não nos amigos.

Também acho inadmissível que toda uma geração esteja impossibilitada de irem aos grandes espetáculos realizados em parques e grandes locais, por conta de meia dúzia de mal intencionados, contra os quais não há controle adequado.

Não vejo motivo, porém, para a falta da busca de cultura. Também não vejo motivo para a falta de revistas especializadas em novidades musicais. Ao contrário, penso que a mídia poderia investir em matéria escrita a respeito dos novos cantores, nas bandas nacionais e internacionais que chamam a atenção pela qualidade do trabalho elaborado.

É verdade que diminuíram os shows, mas também não compramos mais CDs. Os lançamentos musicais são feitos pelo Youtube e, um amigo me indicou um site bastante interessante para quem gosta de música: Sound Cloud. É possível fazer download do Sound Cloud e ouvir as novidades pelo gênero musical preferido.

A mudança nos hábitos e costumes havidos pelas mudanças tecnológicas constitui um fator a ser considerado. A cultura acompanha o tempo cronológico, e, assim como estamos em blogs e redes sociais, a cultura está inserida no meio virtual. Já assistimos shows e palestras virtuais. O camarote, nesse caso, é o computador. Vivemos numa era de intensa comunicação virtual, o que não deixa de ser uma deformidade da necessidade de contato social que precisa de análise. O computador faz às vezes de tirano com o nosso consentimento. O contato humano não é substituível pelo virtual. Esse é um problema a ser resolvido porque podemos desaprender o bom convívio social.

Penso que nenhum governo pode democratizar a cultura, mas pode impedi-la, como acontece nos países de regime fechado. Não é o caso do Brasil.

A FUVEST mexeu comigo, mas não sei se passaria no vestibular com uma resposta dessas. Aliás, gostaria e muito, que as redações dos primeiros lugares fossem divulgadas ao público com a permissão da direção da faculdade e a permissão dos primeiros colocados. Gostei do tema, embora não tenha gostado do neologismo “camarotização”.

Estava ansiosa para escrever aqui, hoje, queria dizer o que penso e sugerir alguma coisa.

Grata pela paciência e leitura desse meu desabafo.

Um comentário:

Célia disse...

Habituei-me tanto ao "camarote virtual" que tal conforto será difícil de renegociar por atos públicos sem segurança alguma! Pondero e muito a falta do humano, mas nem sempre é possível conciliarmos o "agradável ao útil". Excelente seu texto, Yayá!
Abraço.