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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 27 de março de 2015

A Vampira / Conto de Horror

     Era uma vez um castelo sombrio no alto de um morro. Era conhecido pela população das redondezas como o mausoléu dos imaturos. Todos temiam passar por perto porque a sua entrada mais parecia um cemitério.
     De tantos avisos, mistérios e histórias sobre o lugar, certo dia, um pesquisador se interessou em desvendar o mistério que rondava o lugar.
     Para passar-se despercebido, João vestiu-se de mendigo em busca de um prato de comida.
     Pegando o caminho em direção ao castelo observou os corvos e os uivos dos lobos. A entrada do castelo era um caminho de cruzes simbolizando cada criança morta.
     Preparado para o que pudesse encontrar, João seguiu até a porta. Chegando lá, bateu à porta para pedir comida.
     Abriu a porta uma mulher de olhar estranho e penetrante, perguntando o que ele desejava.
     _Um prato de comida, senhora.
     Ela soltou uma gargalhada dizendo que ali ele não ganharia nada que não fosse trocado.
     O mendigo perguntou o que ele poderia fazer que pudesse ser trocado por um prato de comida, pois nada tinha de seu, nem mesmo habilidades para oferecer.
     A mulher, ao invés de responder a questão, perguntou se ele não tinha família ou amigos que o acolhessem.
     _Não, senhora. Deixei as minhas terras há muito tempo. Todos sabem daquele vendaval que destruiu boa parte do oeste, arruinando moradias e plantações, deixando apenas sobreviventes da calamidade. Assim como os outros infortunados eu saí em busca do que fazer e do que comer, mas não encontrei.
     A mulher sorriu, satisfeita. Contou que tinha uma criação de cabras num lugar próximo dali e que ele poderia comer cuidando das cabras.
     O mendigo aceitou. Disse que estava faminto e, comeria o que lhe viesse aos dentes.
     João foi conhecer o terreiro. Enquanto limpava o local, procurou uma árvore alta e troncuda para ali construir uma casa. Procurou madeira boa para fazer uma casa na árvore e começou a construí-la.
     A mulher, dona do castelo, ao perceber o movimento do João, foi conversar com ele.
     _O que é que o senhor está fazendo na árvore? Do terreiro à árvore o senhor foi muito rápido.
     João disse que essa era a maneira que ele encontrou para cuidar do terreiro à noite. Contou que ouviu os uivados dos lobos e tinha medo de ataques de lobos famintos. Se ele estivesse lá em cima, à noite, poderia defender as cabras e se proteger ao mesmo tempo, caso aparecesse alguma matilha.
     A mulher concordou com ele, mas disse a ele que não tornasse a agir sem antes falar com ela.
     João pediu desculpas e disse que nada mais faria sem a sua permissão.
     O pesquisador continuou, entretanto, com os propósitos que o levaram até ali: vigiava o castelo à noite e cuidava das cabras pela manhã, dormia durante as tardes sobre a relva próxima ao terreiro.
     Passados alguns dias, numa noite, João viu a porta do castelo se abrir. Desceu da árvore e, entre arbustos, seguiu a mulher.
     Ela passeava por entre as casas dos aldeões parecendo procurar por algo.
     De repente, ele percebeu que ela deteve os seus passos atenta ao burburinho de algumas crianças junto aos seus familiares. Aproximou-se daquela casa.
     De longe, João observou que a mulher entrou na casa, ficou lá pouco tempo e saiu em direção ao castelo.
     João pensou em segui-la no caminho de volta, mas o luar era alto e ele não quis ser visto; decidiu aguardar que ela seguisse o caminho.
     Enquanto ele observa os passos da mulher se distanciando dali, ele ouve as crianças discutirem e gritarem.
     Inquieto, ele vai até aquela casa e bate à porta.
     _Peço um prato de comida, há dias que não faço uma refeição. Há alguma sobra de alimentos que possa ser oferecida?
     O garoto abre a porta e é ríspido com o mendigo:
     _O senhor não será atendido, pois, neste exato momento, estamos com problemas. Aliás, problemas sérios.
     João pediu permissão ao garoto para aguardar até o amanhecer nas redondezas. Disse que não pretendia incomodar. Antes de partir, na manhã seguinte, ele pediria um prato de comida para os seus pais.
     O garoto disse que ele parecia não entender e, explicitou a situação:
     _O meu pai, agora, é meu irmão e, a minha mãe, foi transformada em minha tia.
     O mendigo disse que não entendeu nada do foi dito e que estava ali em busca de um prato de comida.
     O garoto, nervoso, apontou para a cabeceira da mesa mostrando um jovem de vinte e um anos. Depois, apontou para a mulher de trinta e poucos anos dizendo para a garota, sua irmã, que, se ela fosse sua filha a educaria de maneira diferente. A garota gritava que era mentira.
     João, fazendo-se de conformado, disse que no caminho até ali avistara uma mulher e, quem sabe ela poderia arranjar um prato de comida para ele. Perguntou ao garoto se ele sabia quem era ela e onde morava; quem sabe ela tivesse comida para dar.
     O garoto disse que ela era a dona do castelo e fora até ali oferecer o castelo para a família fazer um piquenique lá. Ela foi lá para dizer que eram bem vindos ao castelo.
     A garota, sua irmã, ouvindo a conversa, disse que era boa ideia procurar aquela mulher e pedir ajuda.
     João, incomodado com a sugestão dela, interveio, dizendo que seria muito perigoso deixar o pai, que agora era quase tão jovem quanto ele, em casa, a obedecer à mãe, que agora estava transformada em tia e queria modificar a educação deles.
     O garoto e a garota concordaram com o mendigo.
     João disse que iria até o castelo pedir comida e, depois, voltaria até a casa deles, talvez até com a ajuda daquela mulher.
     As crianças acreditaram nele. Era noite e o caminho estava escuro. Ele era um homem faminto e estava acostumado com trilhas; eles, não.
     O mendigo foi até a casa na árvore e observou que os candeeiros do castelo ainda ardiam. Esperou amanhecer e foi conversar com a mulher.
     _Bom dia, senhora. Passo por aqui para dizer que o terreiro está limpo e, as cabras, alimentados. Também estou com novas ideias para melhorar o local tais como uma cerca nova e algumas melhorias na casa da árvore.
     A mulher olhou para o João e disse:
     _Não me importune! Se você tiver alguma ideia sobre a casa da árvore, eu o coloco para fora daqui.
     O mendigo disse que tinha se ofendido e que, se assim fosse, ele é que iria embora do lugar.
     _Vá embora!
     Ele foi embora para a casa das crianças, que o aguardavam com a ajuda.
     O mendigo chegou lá e disse:
     _Se o pai de vocês agora é o irmão e, a mãe de vocês agora é tia, a solução é que eu seja o avô.
     As jovens crianças perguntaram se a dona do castelo tinha dito isso ou se era invenção dele.
     _Ela me deu até mesmo roupas de avô e disse que tudo será resolvido, mas ela pediu segredo porque, segundo ela, o segredo é a alma do negócio. Vocês não sabem, assim como eu não sabia, mas ela disse que eles sofreram um feitiço que pode ser desfeito. Nós não falamos mais nisso. Nem eu, nem você e nem ela; assim o feitiço será desfeito.
     Os dois concordaram com o João.
     À noite, a mulher, dona do castelo, bateu à porta novamente, dizendo que trazia flores para a mãe deles. Desta vez, quem atendeu a porta é João:
     _Eu sinto muito, senhora, a minha nora deitou-se cedo, mas pode deixar; eu entregarei as flores.
     A mulher, desconfiada, fingiu que foi embora, mas ficou nas imediações para ver se descobria onde tinha errado. Esperou pela discussão. Aguardou que uma das crianças se exaltasse e fosse até o quintal para que ela pudesse levá-la consigo.
     Ao invés da discussão envolver as crianças, ela se dá entre o pai e o homem que se passa por avô das crianças.
     _O senhor não é da família e eu não permiti a sua entrada em minha casa.
     À medida que João conta que é pesquisador e que procurava saber sobre o castelo sombrio da região, o pai das crianças volta a ter a sua idade normal e se coloca na posição de chefe da casa.
     A mulher, ao ver o marido discutir com o intruso, reage positivamente à situação, assumindo a condição de mãe:
     _O meu marido está certo, nossos filhos precisam de proteção e a mãe deles sou eu.
     João pede desculpas por sua intromissão na família e sai da casa deles, deixando as crianças felizes por verem o seu pai adulto e a sua mãe desenfeitiçada.
     A dona do castelo o aguarda a poucos metros dali.
     _Quem você pensa que é para se intrometer com os meus planos? Agora, você irá ao castelo comigo e saber quem sou.
     João vira-se para a mulher e diz que ele é o destino pelo qual a mulher procura. Estendeu os braços e seguiu com ela ao castelo.
     Chegando ao castelo sombrio, ela abre a porta e o convida para entrar.
     Tudo o que há lá dentro são catacumbas.
     A mulher abre uma delas e diz que é ali que ela dorme. Transforma-se a si própria numa linda borboleta negra e pousa dentro da catacumba fazendo um barulho terrível.
     João não perde tempo e fecha a catacumba, travando-o por todos os lados.
     Depois, pegou os apetrechos que utilizava para cuidar do terreiro e levou a catacumba de ferro para a porta do castelo, cimentando-o ali por debaixo da soleira, de tal modo que ninguém a conseguisse abrir. Ainda escreveu sobre o caixilho: Aqui jaz o ódio. Feito o desfeito, João seguiu o seu caminho.


    




Um comentário:

Célia disse...

... mistériooooo... história bem vampiresca mesmo... mas em alguns parágrafos pude associar com o nosso hoje em dia... O poder... O levar vantagem... O ludibriar... quando tentam depreciar nossa capacidade de "pensar"...
Abraço.