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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Nefastus / Miniconto


Nefastus / Miniconto

     Ele chega com a mesma conversa, desde os primórdios das eras:
     _Você terá o que desejar.
     As pessoas desconfiam e dizem que não fazem nada que seja errado.
     _Ao contrário, você só tem a ganhar. Em nada haverá dano, pelo menos para você.
     Nasce a dúvida se essa proposta vale ou não a pena.
     Percebendo a dúvida, Nefastus prossegue em seu convencimento:
     _Se você tiver tudo que precisa e não se prejudicar, o que mais poderá desejar? Nada que eu não te possa oferecer.
     Surge uma certa simpatia pela proposta.
     Esboçado um sorriso meio desconfiado, ele felicita o convite:
     _Você tem muita sorte. Com tanta gente no mundo eu escolhi você para realizar os caprichos e as vontades que, por vaidade ou ganância, vierem ao seu encontro.
     Ouve-se um murmúrio: _Qualquer coisa, hum.
     Aceito o convite com a promessa de Nefastus de que não haverá pecado envolvido, pois ele não gosta de entrosamento com os mandamentos divinos.
     A ideia parece tentadora.
     Nesse ponto existe a pergunta óbvia:
     _Mas, se não está descrito como pecado em lugar nenhum, o que é que eu tenho que fazer?
     Nefastus abre um sorriso de vingança:
     _Magoar, ofender, desconfiar, humilhar, causar discussão, etc. Com alguma estratégia, você até pode obter uma imagem boa. A ideia é que você faça e tome atitudes sem que acabe mal.
     Será que haverá talento para que se faça isso?
     _Eu ensino. No começo você se sentirá uma certa estranheza dentro de você, mas depois, tudo se ajeita.
     Ah, vou tentar, suspira com arrogância.
     Acordo feito, começam as ordens:
     _Está vendo aquele sujeito? Troque os objetos do bolso direito e do bolso esquerdo. Até ele se achar, você pode se divertir com o parvo.
     Obedecida a ordem, conquistas materiais.
     _Está vendo aquela mulher no salão de beleza. Arrume confusão com a cabeleireira enquanto ela corta o cabelo da mulher. Diga que você é parente dela por parte de pai. A cabeleireira ficará nervosa e não perderá a cliente. Ficará com cabelos horríveis e será confortada por todos.
     Obedecida a ordem, mais conquistas materiais.
     A autoconfiança cresce.
     Continuam as ordens e as conquistas:
     _Está vendo aquela mocinha com os pais. Contrate atores para fingir uma briga com tapas e xingamentos bem à frente deles. Estragará a saída deles.
     Parece que o negócio está virando sociedade.
     Depois de diversas façanhas, vem a ordem inesperada:
     _Saia do emprego e trabalhe para mim.
     Parece que a sociedade acabou.
     Nefastus começa a contar o que foi feito sob as suas ordens.
     Para quê isso?
     _Agora você me pertence! Não se acanhe, você tem tudo o que pede.
     Assim perde-se a alma para um outro dono, Nefastus.
     Conquistada mais essa alma, ele prossegue com mais convites.
      

Um comentário:

Célia disse...

... É o popular "vender a alma pro diabo" para obter conquistas materiais... Triste fim para quem assim procede...
Abraço.