Estávamos na fila para a escada rolante da loja.
Mãe e filha ao meu lado numa conversa tensa. A mãe pedia à filha que não mentisse para ela novamente. A menina, aproximando dez anos de idade, se defendia ao ser chamada a atenção:
_Mãe, não foi uma mentira para te fazer triste. Foi uma mentira para me fazer contente. São fatos diferentes. Eu gostaria que você me entendesse.
A mãe respondeu:
_Você mentiu e me deixou triste. Você disse que iria passar à tarde na casa da sua amiga. Vocês saíram e passearam por onde vocês quiseram. Se não fosse a vizinha da mãe da sua amiga ter telefonado para ela pedindo permissão para as acompanhar sem que vocês percebessem, nós não saberíamos que vocês tinham saído. Você é pequena para decidir sair sem contar onde deseja ir para mim. A sua amiga também é criança.
A menina disse que a mãe estava certa. Ela ainda era criança e crianças erram mais que adultos.
_Quando as crianças erram nos deixam tristes. Quero que você saiba que é muito errado mentir, ainda mais para quem a ama e é sincera e leal com você. Além disso, eu sou a sua mãe e, por enquanto, quem decide os seus passeios sou eu.
A menina estava pronta para continuar o diálogo, quando a mãe reparou que tinha gente na fila. Dirigiu-se à senhora ao lado e disse:
_Sabe que eu estou com uma vontade de sair e protestar. Eu tenho quase quarenta anos e dentro de mim pulsa a indignação em certos momentos.
A senhora disse que a compreendia.
A mãe da menina disse que protestava junto àquela senhora. Disse também que ela não conseguia disfarçar a sua indignação.
A senhora que a ouviu disse que a compreendia mais uma vez. Não era bom para nenhuma delas que toda a fila ouvisse a bronca e as desculpas da garota. A senhora pediu a ambas que fossem pela escada normal. O assunto era essencial para ambas e seria bom que elas resolvessem o problema e não deixassem para depois.
A mãe agradeceu a sugestão enquanto a filha pensava em argumentos.
Assuntos de família são inadiáveis.